domingo, 26 de outubro de 2008

A Praxe e a UTAD (uma breve reflexão) PARTE 3 – Da natureza, pertinência e relevância do 121º artigo dos novos estatutos

Como tinha já referido, na Parte 1, é do meu entender que o artigo 121º revela, mais do que real preocupação com a preservação dos interesses da UTAD e seus alunos, uma acção do foro político (bem oportuna nesse sentido, saliente-se).

Fosse o artigo 121º uma salvaguarda dos direitos individuais de cada aluno, independentemente do seu número de matrículas e contexto, e ninguém neste momento questionaria as intenções por detrás do mesmo. Fosse o mesmo redigido para prever severas penalizações para quem, em qualquer circunstância, se fizesse valer de uma posição privilegiada – por antiguidade ou posição na UTAD - para, por qualquer razão, deliberadamente prejudicar e/ou tirar dividendos dos alunos mais desprotegidos, e o Conselho Geral da Universidade seria aplaudido por todos. Esta omissão de intenções e falta de sinceridade revelar-se-á, a curto prazo, como um tiro no pé dado por uma instituição que deveria viver DE, PARA e A FAVOR dos seus alunos, e ser a maior preocupada com o seu sucesso e bem-estar durante os anos em que frequentem a mesma. Como os estatutos consagram - e bem, note-se - TODOS somos membros da UTAD (artigo 6º).

Dissequemos então os itens do referido artigo propostos à Tutela, dos quais o 3º e 4º foram entretanto retirados, por “sugestão” do ministério. Reza então assim o Ponto 1:

1. Os actos designados por “praxe académica” são actos e iniciativas de carácter lúdico ou festivo, estritamente orientados para a integração dos novos alunos na vida académica, dependentes da adesão livre dos que a eles queiram associar-se, e não podem, em caso algum, revestir natureza vexatória ou de ofensa de natureza física ou moral dos participantes ou de quaisquer outras pessoas, nem podem prejudicar o normal funcionamento da Universidade, impedir ou dificultar a ida dos estudantes às aulas, ou perturbar a sua participação nas demais actividades escolares.

Apesar de aparentemente inócuo e, até certo ponto, bem intencionado, este será porventura, o item que mais me preocupa, pois revela grande desfasamento entre a UTAD e os seus alunos (no respeitante ao conhecimento dos seus costumes e tradições), grande ignorância cultural e prepotência desmedida. Antes de mais, e não sendo a UTAD uma subsidiária dos “Dicionários Hoüaiss”, não cabe ao seu Conselho Geral definir, por acto “iluminado”, a natureza - e muito menos regulamentar - dos usos, costumes e tradições centenários que constituem parte intrínseca da matriz cultural nacional e cuja manifestação é da esfera privada e direito inalienável de cada indivíduo ou grupo social, transfigurando-a e descaracterizando-a por via por via estatutária. O mesmo seria válido para qualquer outra actividade que diga respeito à vida pessoal de cada cada indivíduo ou grupo. Não é menos verdade que, se o objectivo era mudar atitudes e comportamentos, o caminho adoptado foi o pior. Fosse possível incutir por decreto valores e humanismo a todos os membros da UTAD, e acredito que tal teria há muito já sido feito.

Tenho-me divertido a encontrar diferentes costumes e tradições associados à vida estudantil universitária e que possam tomar o lugar do termo “praxe académica” – ladeado por aspas na sua versão original – neste primeiro ponto do artigo 121. Rio-me quando uso “engatar caloirinhas” (não que o aprove, mas fica engraçado), “pagar copos aos caloiros”, “roubar talheres na cantina” ou “vestir as cuecas do lado de fora das calças” . Torna-se, no entanto, ainda mais interessante quando os termos são “procurar conhecer os novos colegas”, “promover o amor à academia”, “fomentar a união dos recém-chegados ao curso”, “ajudar os caloiros a fazer horários”, “arranjar apontamentos aos mais novos”, “mostrar a cidade aos caloiros”, ou “enriquecer culturalmente os novos alunos”, pois todas estas actividades fazem também parte da recepção académica aos caloiros sendo até, o seu fim último.

Outra enormidade deste item é o facto do mesmo ignorar que há já um conjunto de normas, elaboradas por alunos e para os alunos, em constante revisão e melhoramento e que regula as actividades que circundam a recepção aos novos colegas. Trata-se do Código de Praxe da Academia de Trás-os-Montes e Alto Douro que, ao contrário do artigo 121, não pretende definir um conjunto de tradições tão antigas como Praxe Académica, mas antes – com humor, ironia e inteligência - enquadrá-la no contexto da Academia Alto-Duriense, defender os interesses dos caloiros, responsabilizar os alunos mais antigos pelas suas acções e responsabilidades e prevenir a desvirtuação dos valores académicos por quem deles se quiser servir para benefício próprio.

Entendo que a instituição UTAD pretenda salvaguardar os interesses dos recém-chegados durante as atribuladas semanas de recepção aos mesmos, mas o facto de o quererem fazer unilateralmente sem consultar o Órgão Máximo da Praxe – que não é, de maneira alguma a Associação Académica – é revelador do crescente autismo da UTAD-instituição. Um dos maiores erros cometidos é julgar que se conseguem alterar comportamentos sem colaboração daqueles a quem o pretendamos fazer, muito menos se os mesmos pertencerem a elite – no melhor sentido do termo - de jovens inteligentes, dinâmicos, interventivos, cientes dos seus direitos e orgulhosos das suas tradições, como se revelaram nesta altura serem os alunos da UTAD.

Algo que o nosso Magnífico Reitor certamente não ignora – ou não devia ignorar - é que os verdadeiros defensores da Tradição Académica são os primeiros a revoltar-se sempre que algum comportamento desviante de um aluno é tido como consequência da praxe – stricto sensu – em virtude de ter sido realizada a pretexto da mesma. Então, quando os mesmos são usados como argumento pelos opositores à Praxe – lato sensu – então ultrapassam-se todos os limites, quer esta falácia seja perpetrada por políticos, jornalistas ou outros intervenientes da sociedade civil.

De certa maneira, e permitam-me alguma liberdade na comparação, esta atitude equivale a atribuir culpa ao Catolicismo como religião pelos abusos sexuais cometidos por alguns dos seus sacerdotes, apenas porque usavam batina na altura dos mesmos, porque os realizaram na sacristia (ou imediações da Igreja), ou porque justificavam os seus actos às vitimas como prática comum e fruto da “Vontade Divina”. Pela mesma razão, o facto de um polícia, com outros polícias, torturar um suspeito num interrogatório dentro de uma esquadra, não significa que toda a Polícia endosse a tortura como método, ou que se acabássemos com a Polícia acabaríamos com esta prática. Assim, argumentos como "se não houvesse Tradição Académica, não haveria praxes, ergo não haveria abusos" são absolutamente falaciosos e desonestos.

É verdade que, a pretexto da “praxe”, muitos alunos aproveitam todos os anos para descarregar frustações e revelar a sua verdadeira natureza, mascarada durante o resto do ano. Acontece, no entanto, que todos aqueles que assim procedem desvirtuam o sentido da praxe e subvertem os seus valores, acabando por alimentar concepções ignorantes e preconceituosas – oops, pleonasmo – de indivíduos que vêem a Tradição Académica, vulgo Praxe (uma vez mais, note-se o uso do “P” maiúsculo) como uma manifestação residual ou revivalista de “Estado-novismo”. Para todos esses aqui fica um breve – e, espero eu, inteligível para os mesmos – esclarecimento: praxe é Praxe (destaque à diferente capitalização de cada um dos “pês”) e crimes são casos de polícia.

Acho que me estendi um pouco na apreciação deste ponto. Vamos ao Ponto 2:

2. Nenhum estudante poderá ser obrigado a participar em qualquer acto de “praxe académica” contra a sua vontade, cabendo a toda a comunidade académica a obrigação de velar pelo cumprimento desta norma, de que lhe deverá ser dado conhecimento, no acto da sua inscrição.

Este ponto é completamente redundante, pois tal está já consagrado no Código de Praxe, e há muito que a comunidade académica vela para que seja cumprido, já para não falar que somos todos maiores, vacinados e responsáveis pelos nossos actos, inclusive os caloiros. Se alguém de alguma maneira forçar outro a agir contra a sua vontade não está, de maneira alguma, a agir dentro das normas ou do espírito da Praxe.

3. Os actos e iniciativas de “praxe académica” só são considerados como tal quando realizados no campus universitário ou nos espaços imediatamente adjacentes a instalações da Universidade, sendo expressamente proibida a sua prática noutros lugares e, ainda, no interior dos edifícios pedagógicos, nas bibliotecas, nas cantinas, nos bares e nas residências de estudantes.

Importam-se de repetir? Lembram-se do jogo de trocar o termo “praxe académica” por qualquer outra prática, uso ou costume? Pois, embora nem seja preciso, se o fizermos torna-se ainda mais evidente o modo o carácter bacoco e inútil deste ponto. Até o ministro Mariano Gago se deve ter rido à força toda com isto. Nem vou perder mais tempo a demonstrar a imbecilidade deste ponto.

4. O período em que é permitida a realização de actos e iniciativas de “praxe académica” abrange apenas o período de matrícula dos estudantes que ingressem no 1º ano, pela 1ª vez, na 1ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior, e as duas semanas imediatamente subsequentes e, ainda, a data que vier a ser fixada como “dia do caloiro”.

Também não é de admirar que a tutela tenha mandado suprimir este ponto. A UTAD NÃO PODE ESTABELECER LIMITES TEMPORAIS A PRÁTICAS QUE DIZEM RESPEITO À VIDA PESSOAL DOS SEUS ALUNOS. Isto já para não falar que, mesmo dentro de portas, teriam imensa dificuldade em distinguir o que se enquadra na "praxe" ou não. Já praxei sozinho 50 caloiros durante uma tarde inteira e se alguém perguntasse a qualquer um se estava a ser praxado, todos diriam que tal era impossível, já que a praxe estava proibida no campus. Como referi, este ponto do artigo foi entretanto retirado, mas parece que até já estou a ver a seguinte cena:

Funcionário - "O Sr. está a praxar fora da época estabelecida?"

Aluno - "Se estou trajado, estou em Praxe, não acha? Tenho que ir mudar de roupa a casa?"

Funcionário - "Aha, então e o menino com cuecas fora das calças?"

Caloiro - "Porque quer saber, é algum crítico de moda?"

Funcionário - "Mandaram-no fazer alguma coisa contra a sua vontade?"

Caloiro - "Vê aqui alguma criança, alguém com problemas mentais, ou algum tipo de força exercida?" "Não somos todos maiores e vacinados?"

Aluno - "Já agora, vim do gabinete de um docente e ele negou-me direitos que me assistem, segundo as Normas Pedagógicas. Será que fui praxado?"

Funcionário - "Hem...hum...adeus, boa tarde"

Caloiro - "Adeus, boa tarde"

Aluno - “G`andas malucos, esta malta do Conselho Geral da UTAD. Então esta invenção do dia do caloiro., pá...que grande ideia! Espera...mas...o dia do caloiro não é todos os dias? Então bora lá...”

Mas, agora a sério, quem é que redigiu estes itens?

Resumindo (já que este “monólogo” vai longo), a inclusão deste artigo é, sob todos os pontos de vista, lamentável pois, ao invés de demonstrar uma real preocupação pelo bem-estar de todos os alunos e em todas as circunstâncias, é simplesmente revelador da concepção que o Conselho Geral tem dos seus alunos e do tipo de relação que entendem a UTAD dever ter com os mesmos.

Dia 10 de Novembro, o Conselho de Veteranos da UTAD pretende referendar a continuidade da Praxe na Academia Transmontana e Alto-Duriense. Quem for a favor da Praxe, vote em conformidade. Quem o não for, e depois de verdadeiramente esclarecido acerca daquilo que está a sufragar, então que goze em plenitude da oportunidade que o Conselho de Veteranos lhe proporciona e vote em consciência, pois democracia é isso mesmo.

Entretanto, vamos estar atentos, já que o Conselho Geral não se dá por vencido e pretende acrescentar um anexo aos estatutos para regular a Praxe. Só lhes posso desejar boa sorte...

A Praxe, a UTAD: uma breve reflexão Parte 2 – Da Tradição Académica e seu papel na vida estudantil

Tendo entrado no primeiro ano com uma média bastante acima da classificação mínima para esse ano lectivo (e dos seguintes) no meu curso e dispondo do mesmo curso na Universidade do Minho (sou originário de Braga), muitos me perguntaram porque razão não me mudava para lá, até porque os meus pais certamente agradeceriam o corte nas despesas inerentes ao facto de estudar longe de casa. A razão é muito simples: logo nos primeiros dois dias que passei em Vila Real me apercebi que aí iria ser feliz.

Fui feliz porque aprendi a amar minha alma mater e suas tradições, bem como a cidade onde a mesma se sedia; fui feliz porque aqui fiz amigos, criei cumplicidades e encontrei aquilo a que hoje chamo de “minha família escolhida”; fui feliz de cada vez que fui chamado a defender as cores da UTAD por todo o país - incluindo regiões autónomas - e estrangeiro, com alegria, dedicação e arte, mesmo quando a UTAD nada fazia para me ajudar nessa actividade; fui feliz porque tive a oportunidade de aprender que fora das salas de aula também se aprendia, e que há aprendizagens essenciais à vida adulta que fogem ao âmbito do ensino formal. Em suma, fui feliz porque tive a oportunidade de viver o Academismo, no verdadeiro sentido do termo.

Pelo caminho, aprendi também que até uma academia relativamente recente pode ter tradições, indo beber aos centenários costumes académicos nacionais e de outros países do velho continente.
Sendo o Conselho Geral constituída maioritariamente por académicos, surpreende-me que desconheçam tão profundamente as raízes da tradição académica estudantil portuguesa, ao ponto de as quererem ver definidas e regulamentadas por via estatutária. Talvez o facto do Reitor ser proveniente de uma colónia ultra-marina e de ter chegado numa altura em que a Tradição Académica era atacada por ser erroneamente identificada com o anterior regime o justifique. Assim sendo, e de modo muito sucinto – e evidentemente limitado ao meu parco conhecimento da matéria – procurarei contribuir para enriquecer o conhecimento desta faceta da cultura nacional.

Muitas das tradições académicas actuais tem origem nos costumes dos alunos das primeiras universidades do continente europeu, ainda na Idade Média. Já as tunas académicas em Portugal datam de finais do séc. XIX. Também o hino académico mais popular em todo o mundo, o célebre “Gaudeamus” - tantas vezes cantado em sessões solenes da UTAD - revela a ousadia, ironia e bom-humor característicos dos estudantes universitários desde a época medieval, senso a sua popularidade devida à inclusão no final da magnificente “Abertura de Festival Académico” de Brahms.

A Praxe Académica - dos termos gregos Praxis, processo ao longo do qual a teoria se converte pela prática em experiência vivida e Akadémeia, nome da escola de Filosofia de Platão, por derivação do nome do herói grego Akádēmos, cuja lápide se situava já no bosque onde se Platão a erigiu – portuguesa tem a sua origem e referência máxima em Coimbra. Factores como a idade, convivência, cultura, gosto pela tertúlia e outras idiossincrasias dos estudantes universitários conimbricenses proporcionaram a génese dum conjunto de práticas, costumes e valores que lentamente vieram a constituir esta matriz cultural que serve como factor de identificação e distinção – não confundir com elitismo - dos estudantes universitários portugueses. Assim, é a Praxe uma parte indelével da cultura portuguesa que, ao contrário de anacrónica – como muitos a pretendem classificar – enriquece a imagem de um Portugal orgulhoso das suas tradições. Assim, o (bem) trajar – factor de uniformização e esbatimento de diferenças sociais e económicas entre todos que o envergam (ou pelo menos assim deveria ser entendido e envergado) – a Canção de Coimbra, as Tunas Académicas, as Serenatas (das mais públicas às mais recatadas), a tertúlia, os saraus, os “serrotes”, as cerimónias das Queimas das Fitas, as atribuições das insígnias, os cortejos, as missas de bênção das pastas e as praxes de recepção aos caloiros constituem diferentes facetas de um só fenómeno.

Uma das confusões mais comuns reside na distinção da Praxe (lato sensu, com “P” maiúsculo) que não mais é que o conjunto das tradições académicas, da “praxe” (stricto sensu, com “p” minúsculo) como o conjunto de actividades que rodeiam a recepção dos caloiros. É de facto, muito diferente “praxar” e “ser praxado” do “estar NA ou EM Praxe”. Neste último caso, cabem todas as actividades efectuadas por um aluno praxista quando devidamente identificado como tal, isto é, devidamente trajado. Assim sendo, o acto de “praxar” é uma das facetas da Praxis, sendo que esta de maneira alguma se esgota ou limita nessa actividade, não obstante o particular destaque no “Código de Praxe” da Academia Transmontana e Alto Duriense, já que se entendeu ser a “praxe” merecedora de maior atenção e regulamentação.

O uso do traje pressupõe o respeito pelo mesmo e por todas as normas consagradas no Código de Praxe mas também, e acima de tudo, a noção de que se está em representação de toda uma Academia, à semelhança do que acontece a todos os indivíduos que no decorrer da sua actividade profissional usam uniformes que os identificam com as instituições que representam, como polícias, militares ou mesmo quiçá jogadores de futebol.

Tendo descrito sucintamente o que a Praxe, de facto, é, convém que se esclareça também o que a Praxe não é, de todo. Estando TODA a Praxe sob a regulação e supervisão do Conselho de Veteranos, as actividades académicas fora deste âmbito – incluindo as promovidas por núcleos, comissões de curso ou a Associação Académica – não constituem um acto da Praxe, excepção feita aos alunos que nelas participam trajados já que tal pressupõe, por inerência, a sujeição às normas do Código de Praxe. Assim sendo, fica claro que um traje académico não é uma fatiota para tirar fotografias ou ficar bonito na televisão. Aliás, nada obriga – antes pelo contrário – a que dirigentes associativos ou de núcleos de estudantes se apresentem trajados no decorrer da sua actividade mas antes que, se o fizerem, devem entender que se apresentam como dignos representantes e defensores da Praxe (com “pê” maiúsculo), independentemente de “praxarem” caloiros ou não. Até porque “praxar” é de optativo, assim como o privilégio de ser praxado.
Ficou também claro para os mais atentos que actividades como os concertos promovidos pela Associação Académica durante as noites Semanas do Caloiro e Semanas da Queima das Fita em nada tem a ver com a Praxe. Na verdade, estes verdadeiros festivais de rock surgiram por todo o país como uma maneira destas associações angariarem receitas durante períodos nos quais, originalmente, tinham grande destaque as Actividades Académicas, no verdadeiro sentido do termo. Ironicamente, virou-se muitas vezes o feitiço contra o feiticeiro, já que muitas vezes, ao invés de gerarem lucro, dão grandes prejuízos. Infelizmente, sendo a UTAD o principal financiador da sua Associação Académica, acabamos todos por perder.

A Praxe e a UTAD: uma breve reflexão PARTE 1 – Os novos estatutos da UTAD e o actual contexto académico e social

Tive a felicidade de ingressar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro no já distante ano de 1998. Duas licenciaturas (pré-bolonhesas) depois e com um doutoramento em curso (noutra Universidade), continuo a acompanhar muito de perto tudo que se passa na minha alma mater, muito devido às actividades académicas - não curriculares, entenda-se - que com prazer continuo a exercer.

Após leitura atenta da proposta para os novos estatutos da UTAD, apraz-me que os mesmos proponham uma renovação efectiva, patentes na nova organização estrutural proposta (e que espero não se revelar mais "pesada" e/ou represente encargos financeiros acrescidos) assim como outras novidades, das quais destaco a criação do Provedor do Aluno, órgão que gostaria de ver implementado escrupulosamente segundo os moldes definidos estatutariamente. Tenho também estado bastante atento às mudanças que têm ocorrido na UTAD nos últimos anos, nomeadamente no que diz respeito ao crescente relevo dado às áreas das Ciências Naturais, Biotecnologias e Tecnologias da Informação, pese embora o facto de vários cursos na UTAD - antigos e recentes - carecerem ainda da aprovação das respectivas Ordens. A participação no projecto do Parque de Ciência e Tecnologia de Trás-os-Montes é também um indicador de uma estratégia virada para a inovação e de uma aposta clara em áreas em forte expansão e que tomarão um papel fulcral na nossa economia e modo de vida futuros.

Num cenário sócio-económico em constante mutação e desafios como o Processo de Bolonha; a crescente desertificação do Interior Português; o crescimento demográfico negativo; o aumento do rácio candidatos/vagas nas universidades do litoral; a falta de emprego dos recém-licenciados; o actual modelo de financiamento do Ensino Superior (e a real possibilidade de cursos com menos de 20 alunos virem a ser encerrados) ou a emergente Globalização, a UTAD apresenta-se, à primeira vista, como uma instituição ciente desses problemas e com um projecto para os encarar de frente e se apresentar competitiva face a outras universidades mais antigas e melhor estabelecidas no "mercado". Aqui fica, assim, o meu reconhecimento e louvor pelas iniciativas levadas a cabo desde que o Prof. Armando Mascarenhas tomou posse como Reitor.

Não obstante o reconhecimento aqui expresso e que, em nome da verdade e objectividade não podia deixar de destacar, obriga-me a coerência a constatar que, ao contrário do que à primeira vista se poderia pensar, nem tudo são rosas. Isto porque negras nuvens pairam sobre a UTAD, que colocam seriamente em causa a sua credibilidade e prestígio, fora e dentro de portas. Folgo em saber que fica consagrada estatutariamente a realização de auditorias externas periódicas, após a credibilidade da gestão da UTAD ter sido gravemente ferida pelos relatórios das auditorias conduzidas pelo Estado (e que colocaram a UTAD no 1º lugar das irregularidades financeiras de entre todas as instituições auditadas) e pelas acusações presentes no livro "A podridão da administração pública", cujas gravíssimas acusações a Reitoria se escusou a refutar, remetendo-se a um estranho silêncio que, no entender da maioria, apenas beneficia a quem proferiu as acusações.

É verdade que, ao longo dos nove anos em frequentei a UTAD, variadíssimas histórias de má gestão e relatos de despesismo sempre ecoaram e ensombraram os corredores da universidade. Por outro lado, tenho ouvido antigos docentes da UTAD falarem-me de situações eticamente inaceitáveis que ocorreram no passado, assim como já ouvi docentes actuais me dizerem para "fugir a sete pés da UTAD" e nem considerar a mesma para carreira futura, resultado do fosso económico que a instituição tem vindo a cavar há anos. Posso ainda testemunhar que presenciei e tive conhecimento de situações inacreditáveis levadas a cabo por funcionários - docentes e não-docentes – aos níveis administrativo, científico, pedagógico e humano.

Sendo a UTAD a única realidade universitária que conhecia, aprendi a ver facto de ter tido como docentes quatro familiares directos (pais e filhos) como uma situação normal; desconhecia ainda se a falta de qualificação de muitos docentes era prática tão comum noutras universidades como na minha ou se nestas cursos novos eram também idealizados de raiz sem os requisitos mínimos para serem aceites pelas respectivas Ordens. Indignava-me já, contudo, com o total desrespeito com que muitos docentes "contornavam" as Normas Pedagógicas – até porque muitas vezes desafiavam o que eu considero como senso comum - provavelmente apenas para poderem exercer uma suposta "autoridade" (moral? Científica? Académica?), que porventura julgavam derivar do número de classificações negativas dos seus alunos ou do simples facto de deterem um poder tão influente no futuro e vida dos estudantes. Por sorte, tive também a felicidade de ter encontrado docentes – bem como funcionários - excepcionais, quer ao nível humano, pedagógico ou científico. Habitualmente, estas três qualidades andavam sempre a par. Coincidência, porventura.

É devido a estes factos que considero preocupante o facto dos novos estatutos da UTAD não contemplarem a existência de um código de conduta nem explicitamente consagrarem como fundamentais a ética e integridade profissionais e científicas, bem como a Meritocracia como princípio basilar. Aliás, desconheço qualquer documento oficial da UTAD que o faça e é preocupante que a conduta dos membros da UTAD e a dos seus órgãos seja entregue à subjectividade da reflexão ética e matriz moral de cada um, que diferem mais de indivíduo para indivíduo do que muitas vezes estamos dispostos a admitir.

Isto leva-nos ao facto de, curiosamente, o mais próximo que os novos estatutos chegam da regulação da conduta dos seus membros - neste caso particular, apenas dos seus estudantes - é o entretanto celebrizado (e por alguns celebrado) 121º artigo, que consagra a regulamentação da Praxe Académica. Francamente, não consigo vislumbrar nele qualquer ponta de utilidade ou pertinência, se excluirmos as notórias utilidade e oportunidade políticas. A devida reflexão deste tema em particular merece o devido destaque, mas não antes de uma pequena introdução ao rico, fascinante e, ao que tudo indica, por muitos desconhecido mundo da Tradição Académica.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

E pronto!

Já está decido o lema do mui nobre e garboso Khomité. A pedido de várias famílias, dei ainda uma "polidela" ao brasão.


Aqui fica, então, para gáudio dos nossos seguidores. Com 80% dos votos...
Totus copulatum est! ("Tá tudo f....")

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Lema do Khomité: O embate final

Apurados os votos para o lema do Komithé, restam-nos dois "finalistas"

Totus copulatum est ("Tá tudo f***do")

Bibere humanum est, ergo bibamus ("Beber é humano, logo bebamos")

Façam nova votação, e ao fim de 10 dias, o lema que ganahr constará no lister do brasão.

Alea jacta est!!!