|
Prof. Adérito Silveira |
Na edição de 19 de Maio de 2011 do semanário "A Voz de Trás-os-Montes", o professor Adérito Silveira -
músico, maestro, didacta, - honrou-nos uma vez com um elogioso
artigo de opinião sobre o Festa Ibérica, o qual transcrevemos aqui na íntegra. Não é a
primeira vez que se refere elogiosamente à Transmontuna e ao nosso festival. Tampouco é recente o seu papel como apologista da qualidade, esforço e dedicação das tunas, bem como do seu lugar na cultura portuguesa, algo pelo qual todos lhe devemos estar gratos.
Agradecemos-lhe profundamente as suas sempre amáveis, eloquentes e lúcidas palavras, bem como pela disponibilidade e entusiasmo com que sempre abraçou os desafios que lhe propusemos.
"Imparável Festival Ibérico de Tunas"
No Teatro Municipal de Vila Real, realizou-se a X Festa Ibérica, um festival de artes performativas, montra por excelência para as tunas mostrarem uma arte aliciante mas complexa nas suas vertentes artísticas. O trabalho do tuno é multifacetado, obrigando à persistência de um conjunto de atitudes e demonstração de qualidades que poucos conseguem atingir.
Esta X edição foi, e mais uma vez, a celebração da manifestação vibrante onde as tunas participantes exibiram um programa cheio e variado, alegre e contagiante. Reconheça-se que a Transmontuna tem sabido ao longo das dez edições, afastar o fantasma da obstaculização das dificuldades financeiras. Estes acontecimentos de irrefutável interesse para a região, têm já uma legião de fãs que todos os anos procuram chegar primeiro pela conquista de um bilhete.
O sentido imaginético e criativo, a vontade de quem quer fazer, o espírito organizativo do grupo, têm sido os argumentos recorrentes de pessoas com muito valor e que merecem, por isso, a nossa admiração e o nosso respeito. A cidade tem sabido valorizar toda a acção e espírito empreendedor dos principais elementos da Transmontuna. E tem-no demonstrado com um carinho muito especial através dos aplausos calorosos que todos os anos se ouvem no Auditório do Teatro de Vila Real. Sempre, sempre a abarrotar de gente. Nos dois dias de festa, o ambiente foi simplesmente fantástico porque o festim funcionou como uma espécie de adrenalina para os sentidos alimentando todo o espaço da massa corporal receptivo à força dos sons e às novas formas de reinvenção. As intervenções das várias tunas funcionaram como imagens que vão ficar por muito tempo. É sempre um privilégio estar ali: ouvir, sentir, participar.
Neste festival ficámos mais uma vez subjugados à força das tunas. O palco foi sempre um espaço aberto à projecção das músicas que avivaram as consciências. Mesmo os temas originais revelaram-se como obras de criação sustentadas no talento dos seus intérpretes. O palco foi também o espaço de uma galeria onde a maioria das tunas causou a hipnose necessária para com o público e este sentiu-se “empurrado”, como parte integrante do que ia acontecendo…
Tuna Templária, Farmácia de Granada, Hinoportuna, Universidade do Minho, EAISEL, Medicina do Porto, Tunídeos, foram as tunas participantes. Todas foram sujeitas a uma avaliação do júri e aos aplausos do público em áreas como: Melhor Solista, Melhor Pandeireta, Melhor Estandarte, Melhor Instrumental, Melhor Tema Original, e prémios de Melhor Tuna e segunda e terceira melhor.
Dada a qualidade observada não foi nada fácil ao júri atribuir alguns prémios. A noção de concepção do espectáculo, a diversidade e partilha, o trabalho de grupo, a qualidade musical, a coreografia do desenho pelo movimento das acrobacias dos executantes das pandeiretas e dos estandartes, mostraram os ingredientes necessários para que possamos a acreditar nos jovens de hoje e nos seus valores.
A Transmontuna é já um caso único no país na organização destes festivais, pois tem sabido oferecer à cidade de Vila Real momentos altos de grande espectacularidade de fazer inveja a outras cidades com superiores argumentos e apoios. Aqueles senhores doutores que vão ao palco dizer umas piadas, continuam irreverentes e imparáveis. Fazem rir com uma insuflável carga de alegria e bom humor. Nada os atrapalha perante as contingências de guiões mal preparados e sem tempo para os digerir. Superam tudo com uma presença viva de palco como que se aquele lugar fosse propriedade sua onde todos os cantos se conhecem e dominam: é preciso muito traquejo, muita presença, e uma forte convicção naquilo que fazem.
Momento de graciosidade e muito glamour foi a tão simpática presença da tuna feminina (Vibratuna), que deliciou toda a plateia com saborosos temas musicais, onde a voz da solista transpirou suavidade, afinação e encanto de presença. Foi bonito ver e ouvir daquelas meninas a afirmação da música como reflexo de unidade e transmissão de emoções que elevam a pessoa à existência de um ser superior, sensível e inteligente.
Como não podia deixar de ser a Transmontana está cada vez melhor, galvanizando a plateia com alguns temas do seu repertório. Não era fácil depois do que se tinha acabado de ouvir. No entanto, conseguiu-o superando-se a si própria. Há uma vontade de agarrar o tempo, contrariando a vertigem na qual vivemos e um desejo simultâneo de evasão. Isso nota-se. Está no rosto da Transmontuna."