quarta-feira, 27 de maio de 2009

VIII Festa Ibérica - Artigo de opinião do Prof. Adérito Silveira

Deixo-vos com as palavras de um artigo de opinião do Prof. Adérito Silveira - amigo da Transmontuna e jurado habitual no Festa Ibérica - publicado no jornal regional "A Voz de Trás-os-Montes", exactamente como publicado (até mesmo a menção aos G.A.IJ.U.S. como sendo Gaijus).

A Grande Festa Ibérica

*Adérito Silveira

Propensa à inovação e à experimentação, esta Festa Ibérica, pautou-se pela excelência de qualidade e criatividade, arrastando o público a inevitáveis explosões de palmas ...


Numa explosão de géneros, as Tunas apresentaram-se como uma constelação de sonoridades, algumas, coroadas de surpreendentes efeitos; músicas, imagens e mensagens de libertação festiva, levaram o público a manifestar o seu entusiasmo sempre emergente e sincero. As palmas quentes e arrebatadoras, a cada momento enchiam o Grande Auditório, já há muito lotado. A grande procura de bilhetes para este grande certame, é reveladora do entusiasmo que a população do Distrito de Vila Real, dá a um Festival que é já conotado como um dos grandes eventos nacionais ao nível das Tunas.

Em defesa de uma música descomprometida, divertida e dançável, alguns temas contrastavam como reflexão introspectiva da voz, à procura da sua identidade e raíz, onde essas mesmas manifestações vocais, enchiam o Auditório de um silêncio apelativo e mágico.

Nesta oitava Festa Ibérica de Tunas Universitárias, houve momentos diferenciados de estilos, técnicas e carácter, num fascinante microcosmos de aparente liberdade improvisatória e sabor contrapontístico; houve o humor sarcástico e lirismo - poético dos Gaijus da TransmonTuna, aliada a uma oportuna e inteligente visão política e social; vislumbrámos lavradas dissonâncias portadoras de fantásticas harmonias em cozedura de valsa, marcha, polka ou tarantela; deliciámo-nos com a variedade de ataques de articulações frenéticas e endiabradas; inferimos momentos de solenes e espectaculares vozes cantadas em linhas polifónicas que vislumbraram a apoteose dos sentimentos...

Esta oitava edição, mostrou-se cheia de vitalidade e, foi reincidente com os melhores momentos dos anos anteriores. O começo foi brilhante, a todo o vapor, sem nunca se sentir o desvanecimento da energia, ao longo da maratona dos dois dias. Todos os anos, havemos de voltar a esta Festa Ibérica - Festival Internacional de Tunas Universitárias. A ela voltaremos, sem remorso, mas entrando cada vez mais dentro...é sempre assim numa despedida que nos marca e revolve os pensamentos mais estranhos e desprendidos:”Até breve”, é uma doce mentira. “Até para o ano”, é a mais que provável certeza, que nos vai confortar e fazer adivinhar que a vida é para ser vivida quando há objectivos bem definidos, que ajudam a alimentar o corpo e a alma.

Seria injusto não mencionar o novo figurino do Festival desta ano. Houve uma nova imagem de marca, liderada pelo incontornável Dr. Miguel Santoalha. Com o seu humor e jeito de estar no palco, nunca deixou cair o entusiasmo da multidão. Nunca permitiu que a mesma deixasse de estar presente. O seu staff colaborativo esteve à altura e todos juntos criaram momentos hilariantes de risos e gargalhadas. Mas o festival teve mais para além das Tunas. Teve a hipnose numa “voz angelis” masculina que prendeu e arrebatou a assistência de pé. Luís Rocha, é portador de um falsete, afinado e poderoso, raro de se ouvir. Pena que este elemento da TransmonTuna não siga uma carreira musical e continuar como fluxo visível da dimensão humana pelo seu instrumento mais revelador: a voz. Mas este festival teve também uma orquestra paralela, preenchida por instrumentistas de fino gabarito e técnica apurada, pela musicalidade e proficiência técnica do Maestro Vasco Sousa- Coordenador do Departamento de Formação Musical do Conservatório de Vila Real.

E teve mais: conseguiu que as duas noites culminassem numa espécie de coroa de glória. Exactamente! Estonteante, o público esteve até ao fim ficando a bater palmas, já depois de o festival ter terminado.

Propensa à inovação e à experimentação, esta Festa Ibérica, pautou-se pela excelência de qualidade e criatividade, arrastando aquele mundo de gente a inevitáveis explosões de palmas e outros sinais de satisfação...

Palavras para quê?

aderito.silveira@hotmail.com

Maestro do Coro da Cidade de Vila Real

Um comentário:

Sir Giga disse...

Com tanta ignorância e preconceito em alguns segmentos da população e nos "Media" relativamente às tunas, com tanto desprezo com aquilo que é uma parte indelével da cultura portuguesa (e de portugalidade, porque não dizê-lo?), estas lúcidas, oportunas e iluminadas palavras do Professor Adérito são um como um revigorante tónico, assim como o são também as palmas que são dirigidas a cada tuna, às verdadeiras tunas, àquelas do verdadeiro espírito tunante e trovadoresco, da sublimação musical, da frescura e irreverência duma juventude que se quer eterna.
Bem-haja, professor, bem-haja!