domingo, 31 de janeiro de 2010

A praxe na UTAD (contra a ignorância, preconceito e pura estupidez dos seus detractores)

Tendo lido as maiores ignomínias sobre a Tradição Académica - por gente que não faz a mínima ideia do que está a dizer, evidentemente - há uma que me incomoda um pouco mais do que as restantes, nomeadamente o argumento de que a Praxe não só é imposta por coerção (muitas vezes violenta, segundo eles) como também que é odiada pelos caloiros(!!!), que só nela participam por obrigação, sendo ainda alegado pelos "iluminados" senhores que escrevem em blogs altamente politizados - nomeadamente de uma ala esquerda que se diz intelectual, urbana e moderna - que a grande maioria dos estudantes é antipraxe, maioria que, ao que parece, tem permanecido misteriosamente silenciosa e da qual serão supostamente a voz activa. Vendo eu todos os anos bem mais uma centena de milhar de estudantes trajados nas serenatas das suas queimas das fitas, interrogo-me sobre onde poderão estar "os outros".

Surdos a todos os relatos da grande maioria dos alunos do ensino superior que vivem intensamente o academismo - e que certamente suspiram pelos seus anos de caloiro - têm-se agarrado a pontuais casos de actos criminosos perpetrados por sujeitos que, a pretexto das praxes, dão largas à sua ignorância, estupidez e bestialidade e contra os quais estão todos os verdadeiros academistas, que condenam veemente estas práticas e as desejam erradicar de uma vez por todas.
Eu não sigo qualquer religião (OK, talvez o futebol), mas nem por isso considero que os padres pedófilos sejam representativos de toda a classe sacerdotal, nem que as religiões sejam intrinsecamente más e geridas por criminosos. Desde que os que a elas adiram o façam de livre e espontânea vontade, por mim tudo bem, e o mesmo deveria ser verdadeiro para as praxes ou qualquer outra situação, em nome do respeito pelas liberdades individuais.

Entre as "contundentes" provas das alegações destes senhores, que se assumem contra TODA a centenária tradição académica (não só as praxes de recepção aos caloiros mas também o traje académico, cortejo e latada, monumentais serenatas, tunas e coros académicos e todas as outras tradições academistas que encantam o país e quem o visita), conta-se um inquérito do Professor Artur Cristovão da UTAD, de 2005. Este inquérito consistiu na consulta a 43 alunos do primeiro ano (dos mais de 1200 alunos que anualmente ingressam na UTAD), de duas turmas de um só curso.

É impressionante como um inquérito efectuado sem qualquer rigor científico possa ter tido, na altura, tanta cobertura mediática. Aliás, mais surpreendente é o facto de Artur Cristovão, professor de "Técnicas de Estudo, Comunicação e Trabalho Científico" não ter esclarecido que este inquérito apresentava falhas metodológias clamorosas (das quais, certamente, estava plenamente consciente) que impediam que constituísse prova do que quer que fosse. Entre essas falhas, contam-se

1- Amostragem não aleatória, não abrangente e enviesada, realizada a um "cluster" de alunos de apenas duas turmas de um só curso, de um edifício na cidade e fisicamente separado do campus universitário. Portanto, não representativa (quantitiva e qualititivamente) dos caloiros da UTAD

2- Parcialidade do investigador, que por acaso (mas só por acaso) até pertence ao "tal" partido anti-tradição académica (oh, que surpresa!), tendo sido em 2009 mandatário da candidatura do Bloco de Esquerda pelo distrito de Vila Real à Assembleia da República. Escusado será dizer que este tipo de conflito de interesses tem que estar devidamente declarado aquando da realização e divulgação dos resultados.

3- Apenas ter sido realizado a caloiros, e apenas num momento pontual das praxes. Poder-se-iam ter resultados bastantes diferentes se o mesmo inquérito fosse repetido no final do ano lectivo.

4- Má estruturação do próprio inquérito

5 - Preenchimento do inquérito em contexto não-neutro, a alunos do 1ºano, nas aulas do docente em questão, apresentado e justificado à sua maneira. Não nos esqueçamos que o simples facto do docente ter influência directa no sucesso escolar dos respondentes constitui, por si, um factor de condicionamento, mesmo se o dito docente não o intender, de facto. Não se pode excluir essa importante variável do contexto experimental.

Pior que não dar a devida dimensão aos resultados por si obtidos, o reputado professor catedrático não se coibiu de fundamentar os seus argumentos anti-praxe neste seu inquérito - extrapolando-os ao que supostamente passaria em toda a Academia - em carta dirigida a toda a comunidade académica.

Contudo, e por pior que tenha sido este inquérito ao nível metodológico e científico, no mesmo consta que a maior parte dos 43 alunos que o responderam consideram ter passado por coisas inaceitáveis. Ainda que o conceito seja subjectivo, uma só opinião desse teor bastaria para que merecesse a nossa atenção. A perpetração de quaisquer tipo de abusos não é, de todo, o objectivo das praxes. Também merece reflexão o seguinte: todos os que tal afirmaram eram maiores de idade e tinham maturidade para pensarem pelas suas cabeças. Ou seja, podem legal e livremente trabalhar, votar, casar, beber, fumar ou procriar (ou "treinar" para o efeito) e tudo mais, mas não saberiam dizer que não a algo que entendessem ser inaceitável.

Hmmm, mas será mesmo assim? Que terão OS ALUNOS (principalmente os caloiros) a dizer sobre isto? Vejamos a seguinte reportagem da UPTV, a propósito do desígnio da reitoria em "limitar" as praxes, algo sobre o qual, evidentemente, não tem qualquer tipo de legitimidade ou jurisdição, dado se tratar de uma actividade resultante da liberdade individual dos alunos!



Evidentemente, os detractores das praxes não divulgaram que o mesmo inquérito apontava que "A grande maioria dos inquiridos concorda que a praxe ajuda a "integrar" e permite "conhecer pessoas e a cidade", e que apenas um quarto (ui, tantos!) dos sondados considerou a mesma "muito longa, cansativa ou perda de tempo". Também não foram divulgadas as actividades que os alunos consideram agradáveis (como o "convívio entre os estudantes" ou cerimónias como o "baptismo"), até porque isso não vende jornais nem dá notoriedade a ninguém.

O docente que delineou o inquérito assumiu que "É importante que não nos demitamos de acompanhar o processo, de propor alternativas. Temos que debater com os alunos, informar os caloiros sobre o que é a vida universitária, desmistificar a ideia de que a praxe é obrigatória e procurar que cada novo aluno tenha um tutor, ou seja, um professor que o acompanhe mais de perto". Curiosamente, de tudo aquilo que ressalvou ser importante, apenas os veteranos da Academia o levaram efectivamente a cabo, desconhecendo-se que desmistificações e acompanhamento dos alunos foi autor ou actor o docente em questão.

Seja como for, e face ao negro cenário traçado pelo Exmo. Senhor Professor tratou a Reitoria de promover um estudo (sabem, daqueles a sério) dinamizado por docentes da UTAD e a própria AAUTAD (que é neutra em termos de Praxe e praxes, que são da total responsabilidade do Conselho de Veteranos) e cuja análise e tratamento estatístico foi encomendando a uma empresa independente especialista em estudos de mercado (TNS Euroteste). Um total de 1136 inquéritos válidos - bastante representativo, uma vez que correspondeu a 19% do universo de alunos da UTAD. Conclusões? Venham elas:

1) A grande maioria dos alunos já foi “praxado”, mas por outro lado, mais de metade nunca “praxou”. [nota: há reconhecimento de muitos de que tal "não é para todos"]

2) 5% dos estudantes nunca foi “praxado” e nunca “praxou”. [nota: e quê? ninguém os forçou, coagiu, ameaçou, nada? Hmmm...]

3) A participação em algum tipo de praxe (ou “praxaram” ou já foram “praxados”) envolveu 94,9% dos alunos. Um pouco mais de metade deste universo traduziu esse sentimento como “algo estranho mas depois adaptou-se” e, com valores ligeiramente inferiores (42%), fica o sentimento de se “terem sentido bem/integrados no espírito da praxe”. [ou seja, ninguém que foi "praxado" terá desaprovado as "praxes"]

4) A grande maioria dos alunos que foram “praxados” (87,1%) não precisou de procurar apoio para resolver problemas decorrentes da praxe. Por sua vez, dos que procuraram apoio para a resolução de problemas resultantes desta prática, cerca de 84% obtiveram resposta.

5) Cerca de 2/3 dos alunos têm uma atitude pro-activa perante as praxes, 34% têm uma atitude de indiferença e somente 4% de oposição. [nota: deve ser a imensa minoria de que fala o MATA, "Movimento Anti-Tradição Académica"]

6) Cerca de 90% dos alunos consideram que a praxe serve para a sua “integração na universidade”, 9% refere que a praxe “não serve para nada/é uma perda de tempo” e 3% afirma que “beneficia o desenvolvimento pessoal”.

7) Mais de metade dos alunos considera o tempo da praxe adequado. Ainda assim, na opinião de 34% o tempo de praxe é longo, enquanto que 12% o considera reduzido. [OK, pertenço a uma minoria:)]

Ou seja, ao contrário do que os inconsequentes "movimentos antipraxe" proclamam, é mesmo verdade que quem não quer ser praxado não o é, como seria de esperar. Só quem nunca praxou pode achar que alguém pode ter gosto em "praxar" alguém contrafeito. Não dá pica nenhuma.

Note-se que 5% dos alunos nunca foram praxados ou praxaram, quando apenas 4% se assume contra as praxes. Assim sendo, lamentamos pelos 1% dos alunos que, não sendo antipraxe, não foram praxados nem praxaram. Eles devem saber o que perdem.

E então, o que acharam os professores? Foi a surpresa total, evidentemente, ainda que apenas para estes, já que os alunos desde sempre se manifestaram a favor das "praxes", para não falar da restante Tradição Académica.



Posteriormente ao estudo da UTAD/AAUTAD, o Conselho de Veteranos achou por bem realizar uma consulta à academia sob a forma de referendo, por sinal mais concorrido que qualquer eleição para a Associação Académica que me esteja a lembrar. Cerca de noventa por cento dos 1.667 alunos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro que participaram no referendo (de um universo de cerca de 6.000) demonstraram estar a favor da Praxe nos moldes actuais, dando aval à "existência, regulamentação e fiscalização da praxe académica na forma em que se encontra no código de praxe?".

Note-se que eu teria votado "NÃO" - como 9,84 % fizeram - pois, ainda que academista, não concordo com alguns pontos do actual Código de Praxe. Como eu outros terá havido (relembro que apenas 4% dos alunos da UTAD se afirmaram no estudo da reitoria/AAUTAD como "antipraxe").

Quanto à outras academias, eu não sei. Mas na UTAD, as praxes continuarão a ter um papel preponderante na nossa vivência académica. Quem não gostar...azarito. Saia de cena. E claro, "amigos à mesma..."

2 comentários:

rainho disse...

já meteste mais uma acha na fogueira do mata? é que o ultimo post é sobre a UTAD... lololol

Anti-Ditaduras disse...

Ora bem antes de mais exelente post,

Só um comentario:
"Note-se que eu teria votado "NÃO" - como 9,84 % fizeram - pois, ainda que academista, não concordo com alguns pontos do actual Código de Praxe. Como eu outros terá havido (relembro que apenas 4% dos alunos da UTAD se afirmaram no estudo da reitoria/AAUTAD como "antipraxe")."

Se não concordas com alguma coisa do código podes sempre dirigir a tua opinião ao conselho de veteranos, ""https://www.facebook.com/cvutad"

Boas continuações