Deixo-vos o testemunho de um amigo que por aí andou uns anos... Poucas vezes li uma descrição tão fiel da nossa Eterna Cidade...
Frio, Chuva e Lareiras
Ao chegar o Inverno ou, pelo menos, o tempo frio e chuvoso, sou assaltado invariavelmente pela mesma memória: Vila Real. Não sei se é da mistura de aromas da terra molhada e do fumo de lareira exalado pelas chaminés aqui da rua e do frio. Antes de ir para a Bila, fez 4 de Novembro 11(!) anos, nunca tinha sentido semelhante mistura. É o que dá ser de Lisboa e não ter Santa Terrinha, ao invés do que acontecia com a maior parte dos meus conterrâneos.
E é sempre a mesma nostalgia que me bate, e bate bem fundo.Vila Real tem, para mim, um sentido ímpar. Se os Bosquímanes têm um ritual de passagem à idade adulta, eu tive o meu em Vila Real. A cidade não tem em si nada de fantástico. É, no mínimo, feia. As pessoas, na sua relação com os alunos deslocados eram invariavelmente idiotas. Com o tempo lá revelavam o seu afecto natural, mas tudo o que de mal acontecia era naturalmente imputado ao pessoal estudante.
Mas então, porque é que sinto saudades desse local?
Porque foi nele que encontrei o meu refúgio.
Porque nele achei a verdadeira amizade.
Porque nele passei por todos os sentimentos possíveis e seus contrários.
Porque, em Vila Real, me foi possível experimentar tudo o que me tinha sido impossível de fazer até então.
Porque lá pude ser que realmente sempre fui e que tinha estado preso num círculo interior.
Porque pude viver a minha vida (quase) como quis.
E todas essas sensações de descoberta, naturais do crescimento, dificilmente se voltarão a repetir. Era como ser um puto a encontrar todos os dias novos interesses e desbravar o desconhecido.
E isso não volta.
De Vila Real já perdi muita coisa. Há pessoas com quem já não falo desde o fim do curso, o projecto de vida lá iniciado falhou, a minha Bruma morreu ingloriamente e a própria cidade já não tem o mesmo pulsar.
Tenho, felizmente, a sorte de poder continuar a estar próximo daqueles que me são importantes.Mas até isso tem mudado. Porque já nenhum tem 20 anos. E estamos todos a seguir o curso natural de vida. E aí podemos ter um choque! Como quando no outro dia ao encontrar casualmente a Lara num café aqui ao pé de casa nos despedimos a dizer 'Temos de combinar qualquer coisa a ver se nos vemos'! Não reparei imediatamente no sentido dessa frase, mas quando finalmente tomei noção só pude pensar que mais cedo do que tarde isto tinha de acontecer. E este é o verdadeiro choque... Passa-se sem se ter conta duma altura em que é natural nos vermos sempre que nos dá na gana, para outro em que já não pode ser (sempre) assim.E assim reparo que vou fazer 32 anos e não 23.
E é natural que assim aconteça, não é?
Senão qualquer dia isto parecia o Beverly Hills 90210...
4 comentários:
espectacular...
brutal mesmo
toca cá dentro
Antes de mais, peço que evitem fazer transcrições do conteúdo de outros blogs, por uma questão de direitos de autor. Um "linkzito" para o original serve. De resto, gostei bastante.
Salvas as devidas diferenças, posso encontrar alguns pontos de contacto com os sentimentos aqui descritos e os meus próprios. No entanto, relevantes diferenças fazem distinguir a minha percepção da patente neste texto. Desde já, a idade; ainda não cheguei aos 30 (embora os sinta a galopar incessantemente na minha direcção) e é natural que a nostalgia não se tenha apoderado de mim com tamanho impacto. Depois, e principalmente, porque Vila Real (cidade bela, basta "ver com olhos de ver") não foi apenas a cidade onde me tornei homem, mas sobretudo onde me fiz TUNO. Isso levou a que tivesse encetado, fortalecido e cimentado amizades que jamais perderei, pois são as melhores que tenho. Partilhamos alegria, tristeza, ilusão, desilusão, euforia, confidências (e inconfidências) e continuaremos a fazê-lo, pois mesmo que não estejamos presentes, nunca estamos ausentes. E, independentemente da idade, das sempre prioritárias famílias, ou dos deveres profissionais, continuaremos a viver a TUNA. Pois fomos mais que jovens homens a beber os primeiros tragos de vida e independência, mais que estudantes universitários e, atrevo-me a dizer, mais do que meros tunos; fomos, somos e seremos TRANSMONTUNOS.
Concordo que o deslumbramento da juventude não mais voltará, mas é compensado pela admiração e reverência dos mais novos, pelo orgulho no caminho percorrido, pela certeza (às vezes) das escolhas e a perspectiva dos novos horizontes que se abrem.
Assim, peço aos mais novos que reflictam na ideia do texto apresentado e na que transparece da minha própria percepção. Daqui a cinco, dez, quinze anos (ou mais), como querereis sentir estes anos? Como um tempo que não volta mais, ou como os primeiros passos de um caminho sem fim à vista?
"Carpe diem", e os seguintes!
Curioso, ou nao, por momentos pensava ter sido eu a escrever estas palabritas!
Ainda n passaram assim tantos anos (apenas 2), desde que deixei a bila, mas a saudade aperta cada vez que vem á memoria os grandes momentos que por la vivi.
Nunca a palavra SAUDADE teve pr mim o significado q tem hoje.
Mas hoje olho pr tás, e tal como o Giga (o colega literalmente GRANDE, do mui nobre curso de Bio-Geo), e orgulho-me de tudo o que por la fiz. Daqui a cinco, dez, quinze anos...a saudade continuará a ser igual, mas com a certeza de que ai começaram, os primeiros passos de um caminho sem fim à vista!!!!!
...e ja dizia Miguel Torga:
"Vê-se primeiro um mar de pedras.
Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador.
Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito,inquieto, a anunciar o começo de uma grande hora.
De repente, rasga a espessura do silêncio uma voz
de franqueza desembainhada:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!..."
ps- obrigado Transmontuna por estrem nas minhas recordaçoes da Bila!!!
nada mais verdade... nunca pensei gostar tanto de vila real... nem sequer me passava pela cabeça k era la k iria parar, mas a verdade é que cá estou... numa bela cidades em todos os sentidos onde encontrei pessoas mais que espectaculares, momentos unicos que nunca mais vou esquecer e que tenho a certeza vou dar muito mais valor quando acabar o curso... mas um grupo restrito de pessoas, essas tenho a certeza que vão ficar pra sempre porque por tudo o que passamos apenas em dois anos ja dava pra fazer tres ou quatro filmes...
porque passamos por bons momentos, e outros nao maus mas menos bons e todos eles valeram a pena e nos fizeram crescer...
a quem ja se cruzou no nosso caminho e aqueles que ainda hao-se vir muito obrigda por tudo... porque tem sido os melhores anos da minha vida...
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