quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Nostalgia...

Quem por lá passa, sabe bem como é... Porque há uma diferença entre viver em Vila Real e viver Vila Real, ou entre quem vive e quem a vive.

Deixo-vos o testemunho de um amigo que por aí andou uns anos... Poucas vezes li uma descrição tão fiel da nossa Eterna Cidade...



Frio, Chuva e Lareiras


Ao chegar o Inverno ou, pelo menos, o tempo frio e chuvoso, sou assaltado invariavelmente pela mesma memória: Vila Real. Não sei se é da mistura de aromas da terra molhada e do fumo de lareira exalado pelas chaminés aqui da rua e do frio. Antes de ir para a Bila, fez 4 de Novembro 11(!) anos, nunca tinha sentido semelhante mistura. É o que dá ser de Lisboa e não ter Santa Terrinha, ao invés do que acontecia com a maior parte dos meus conterrâneos.


E é sempre a mesma nostalgia que me bate, e bate bem fundo.Vila Real tem, para mim, um sentido ímpar. Se os Bosquímanes têm um ritual de passagem à idade adulta, eu tive o meu em Vila Real. A cidade não tem em si nada de fantástico. É, no mínimo, feia. As pessoas, na sua relação com os alunos deslocados eram invariavelmente idiotas. Com o tempo lá revelavam o seu afecto natural, mas tudo o que de mal acontecia era naturalmente imputado ao pessoal estudante.

Mas então, porque é que sinto saudades desse local?

Porque foi nele que encontrei o meu refúgio.
Porque nele achei a verdadeira amizade.
Porque nele passei por todos os sentimentos possíveis e seus contrários.
Porque, em Vila Real, me foi possível experimentar tudo o que me tinha sido impossível de fazer até então.
Porque lá pude ser que realmente sempre fui e que tinha estado preso num círculo interior.
Porque pude viver a minha vida (quase) como quis.


E todas essas sensações de descoberta, naturais do crescimento, dificilmente se voltarão a repetir. Era como ser um puto a encontrar todos os dias novos interesses e desbravar o desconhecido.
E isso não volta.


De Vila Real já perdi muita coisa. Há pessoas com quem já não falo desde o fim do curso, o projecto de vida lá iniciado falhou, a minha Bruma morreu ingloriamente e a própria cidade já não tem o mesmo pulsar.
Tenho, felizmente, a sorte de poder continuar a estar próximo daqueles que me são importantes.Mas até isso tem mudado. Porque já nenhum tem 20 anos. E estamos todos a seguir o curso natural de vida. E aí podemos ter um choque! Como quando no outro dia ao encontrar casualmente a Lara num café aqui ao pé de casa nos despedimos a dizer 'Temos de combinar qualquer coisa a ver se nos vemos'! Não reparei imediatamente no sentido dessa frase, mas quando finalmente tomei noção só pude pensar que mais cedo do que tarde isto tinha de acontecer. E este é o verdadeiro choque... Passa-se sem se ter conta duma altura em que é natural nos vermos sempre que nos dá na gana, para outro em que já não pode ser (sempre) assim.E assim reparo que vou fazer 32 anos e não 23.


E é natural que assim aconteça, não é?


Senão qualquer dia isto parecia o Beverly Hills 90210...



por Pifo, em A Vida de Pifo - versão original AQUI

4 comentários:

Anônimo disse...

espectacular...
brutal mesmo
toca cá dentro

Sir Giga disse...

Antes de mais, peço que evitem fazer transcrições do conteúdo de outros blogs, por uma questão de direitos de autor. Um "linkzito" para o original serve. De resto, gostei bastante.

Salvas as devidas diferenças, posso encontrar alguns pontos de contacto com os sentimentos aqui descritos e os meus próprios. No entanto, relevantes diferenças fazem distinguir a minha percepção da patente neste texto. Desde já, a idade; ainda não cheguei aos 30 (embora os sinta a galopar incessantemente na minha direcção) e é natural que a nostalgia não se tenha apoderado de mim com tamanho impacto. Depois, e principalmente, porque Vila Real (cidade bela, basta "ver com olhos de ver") não foi apenas a cidade onde me tornei homem, mas sobretudo onde me fiz TUNO. Isso levou a que tivesse encetado, fortalecido e cimentado amizades que jamais perderei, pois são as melhores que tenho. Partilhamos alegria, tristeza, ilusão, desilusão, euforia, confidências (e inconfidências) e continuaremos a fazê-lo, pois mesmo que não estejamos presentes, nunca estamos ausentes. E, independentemente da idade, das sempre prioritárias famílias, ou dos deveres profissionais, continuaremos a viver a TUNA. Pois fomos mais que jovens homens a beber os primeiros tragos de vida e independência, mais que estudantes universitários e, atrevo-me a dizer, mais do que meros tunos; fomos, somos e seremos TRANSMONTUNOS.
Concordo que o deslumbramento da juventude não mais voltará, mas é compensado pela admiração e reverência dos mais novos, pelo orgulho no caminho percorrido, pela certeza (às vezes) das escolhas e a perspectiva dos novos horizontes que se abrem.
Assim, peço aos mais novos que reflictam na ideia do texto apresentado e na que transparece da minha própria percepção. Daqui a cinco, dez, quinze anos (ou mais), como querereis sentir estes anos? Como um tempo que não volta mais, ou como os primeiros passos de um caminho sem fim à vista?

"Carpe diem", e os seguintes!

Anônimo disse...

Curioso, ou nao, por momentos pensava ter sido eu a escrever estas palabritas!

Ainda n passaram assim tantos anos (apenas 2), desde que deixei a bila, mas a saudade aperta cada vez que vem á memoria os grandes momentos que por la vivi.

Nunca a palavra SAUDADE teve pr mim o significado q tem hoje.

Mas hoje olho pr tás, e tal como o Giga (o colega literalmente GRANDE, do mui nobre curso de Bio-Geo), e orgulho-me de tudo o que por la fiz. Daqui a cinco, dez, quinze anos...a saudade continuará a ser igual, mas com a certeza de que ai começaram, os primeiros passos de um caminho sem fim à vista!!!!!



...e ja dizia Miguel Torga:

"Vê-se primeiro um mar de pedras.
Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador.
Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito,inquieto, a anunciar o começo de uma grande hora.
De repente, rasga a espessura do silêncio uma voz
de franqueza desembainhada:

- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!..."


ps- obrigado Transmontuna por estrem nas minhas recordaçoes da Bila!!!

Sílvia disse...

nada mais verdade... nunca pensei gostar tanto de vila real... nem sequer me passava pela cabeça k era la k iria parar, mas a verdade é que cá estou... numa bela cidades em todos os sentidos onde encontrei pessoas mais que espectaculares, momentos unicos que nunca mais vou esquecer e que tenho a certeza vou dar muito mais valor quando acabar o curso... mas um grupo restrito de pessoas, essas tenho a certeza que vão ficar pra sempre porque por tudo o que passamos apenas em dois anos ja dava pra fazer tres ou quatro filmes...
porque passamos por bons momentos, e outros nao maus mas menos bons e todos eles valeram a pena e nos fizeram crescer...
a quem ja se cruzou no nosso caminho e aqueles que ainda hao-se vir muito obrigda por tudo... porque tem sido os melhores anos da minha vida...